Inteligência Artificial e nossa crise existencial: será que somos assim tão especiais?
O cérebro humano, a tecnologia e a Singularidade
Eu não sei se viram, mas o principal risco para o mundo a curto-prazo, é a desinformação e a informação falsa, potencializadas pela inteligência artificial que ameaça erodir a democracia e polarizar a sociedade, conforme afirmou o Fórum Econômico Mundial. Eu poderia trazer diversos outros temas de ameaças e polêmicas que a inteligência artificial suscita como (mais) desigualdade social, concentração de renda e poder, deepfake, desemprego, guerras geopolíticas, etc. Porém, para hoje, só gostaria de dar alguns passos para trás e insuflar reflexões mais filosóficas sobre por que nos sentimos ameaçados, como humanos, pela inteligência artificial.

Milhões de espécies surgiram antes de nós, tiveram seu momento, e então entraram em declínio e sumiram. 99,9% das espécies acabaram extintas. Isso significa que a extinção é a norma, e a lei das probabilidades trabalha contra nós. Sobre o tema, sugiro fortemente que vejam a série documental “A Vida no Nosso Planeta”, disponível na Netflix. Estamos constantemente criando formas de desafiar as probabilidades das naturezas para não estarmos também fadados à extinção. Afinal, o que nos tornaria tão especiais?
No final, assim como cada um de nós humanos estamos o tempo todo lutando contra nossa mortalidade, a humanidade está lutando contra nossa própria extinção. A nova onda tecnológica com a ascensão da inteligência artificial e do machine learning, segundo o físico Michio Kaku, nos levará a um destino de nos tornarmos deuses que um dia tememos e adoramos. Segundo o escritor do livro “O Futuro da Humanidade”, a ciência nos fornecerá meios para formatarmos o universo à nossa imagem. Ou seja, tudo o que queremos é criarmos seres que sejam parecidos conosco, porque nos achamos incríveis e, assim, perpetuar nossa própria existência

O ganhador do Nobel de Medicina James D. Watson escreveu que “o cérebro é a última e a maior das fronteiras biológicas, a coisa mais complexa que já descobrimos em nosso universo”. A verdade é que técnicas matemáticas que foram desenvolvidas no campo da inteligência artificial (como as usadas na Siri, assistente da Apple) são muito similares em termos matemáticos aos métodos pelos quais a biologia evoluiu na forma do neocórtex. E a realidade é que um computador pode executar qualquer algoritmo que possamos definir, por causa de sua universalidade. Portanto, é só questão de tempo para que os robôs possam executar a maior parte, senão todas as tarefas humanas – o nível de qualidade e originalidade ainda está sob discussão.
No livro “Como Criar uma Mente”, Ray Kurzweil cita que o cérebro é uma máquina, máquina biológica, mas ainda assim uma máquina. E há uma plasticidade considerável no cérebro que nos permite aprender, contudo, há bem mais num computador, que pode reestruturar completamente seus métodos mudando seu software. Logo, nesse sentido, um computador será capaz de imitar o cérebro, já o inverso não se aplica.
Quando falamos de inteligência artificial, a nossa meta, no final, é conceber verdadeiros autômatos, robôs com habilidade de tomar decisões próprias, requerendo o mínimo de intervenção humana. Como Michio Kaku aponta, é possível imaginar que, um dia, talvez, os robôs possam se dar conta de terem prioridades diferentes das nossas. Uma vez que nossos interesses divirjam, os robôs poderão representar uma ameaça. Porém, pensando aqui com meus botões, os humanos já divergem tanto entre si, será que os robôs não poderiam nos ajudar a achar um ponto de convergência?
1.ª Lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal.
2.ª Lei: Um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que entrem em conflito com a Primeira Lei.
3.ª Lei: Um robô deve proteger sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira ou Segunda Leis.
Agora, falando de Futuro(s)...
Desde que pegamos um graveto para chegar até um galho mais alto, temos usado ferramentas para ampliar nosso alcance, tanto físico como mental. Hoje, as tecnologias já estão diagnosticando imagens médicas, dirigindo aviões, tomando decisões financeiras e recebendo a responsabilidade por muitas outras tarefas que costumavam precisar da inteligência humana. Mas elas (ainda) não têm consciência própria. Segundo a chamada Singularidade, a tendência é nos fundirmos com a tecnologia inteligente que estamos criando.
As raízes intelectuais da Singularidade remontam a John von Neumann, um pioneiro cientista da computação que, na década de 1950, discutiu sobre como "o progresso tecnológico sempre acelerado" resultaria em "alguma singularidade essencial na história da raça". A evolução biológica vai continuar, mas a evolução tecnológica está se movendo um milhão de vezes mais depressa do que a outra. Portanto, não demorará para que a porção não-biológica de nossa inteligência venha a predominar.
O maior expoente atual no tema, o futurista Kurzweil, diz que no momento em que a singularidade se instituir, um computador de mil dólares será um bilhão de vezes mais inteligentes do que todos seres humanos juntos. Há muitas controversas sobre esse tema da Singularidade. Para quem quiser saber mais sobre, tem uma série de conteúdos disponíveis na internet como este Ted Talk do Ray Kurzweil. Kurzweil diz que, no futuro, as máquinas parecerão conscientes para as pessoas, pois exibirão toda uma gama de sugestões emocionais sutis e familiares, nos farão rir e chorar; e ficarão loucas conosco se dissermos que não acreditamos que elas são conscientes.

Entre as críticas ao movimento, encontrei este artigo que cita o quanto o Deep Learning ainda tem muitas questões em aberto, levando-nos a concluir que deciframos apenas uma pequena parte de um método pelo qual os sistemas nervosos podem criar comportamentos inteligentes; e que a verdadeira Inteligência Artificial Geral (IAG) ainda está pelo menos vários séculos no futuro.
Mitch Kapor, fundador da Lotus Development Corporation, por exemplo, diz que o movimento da singularidade é “fundamentalmente movido por um impulso religioso. E todo o frenético sensacionalismo, para mim, não esconde este fato”. Independentemente das críticas sólidas à Singularidade, não se deve ignorá-la como um futuro possível – mas será se desejável?
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