Neste fim de semana, assisti a várias filmagens de quando meus irmãos e eu éramos crianças, e meus pais ainda eram jovens (ou não tão jovens) adultos. Aos 37 anos, minha idade hoje, eles já tinham cinco filhos, carro, carreiras consolidadas, casa própria e ainda construíam uma casa maior, de quatro quartos - até então dividíamos um único quarto com cinco crianças. Na época, isso era o que se considerava uma vida adulta.
Abaixo, algumas imagens dos meus pais como jovens adultos. Na última foto, eles tinham 34-35 anos, ou seja, mais jovens do que eu hoje:
Já eu, hoje, sem filhos, morando num pequeno apartamento, em transição de carreira e sonhando em juntar dinheiro para viajar, não consigo imaginar ter a responsabilidade de formar cinco pequenos seres humanos no modelo de vida atual. Muita coisa mudou no mundo e na sociedade, transformando o conceito de ser adulto.
Historicamente, a definição de ser adulto sempre passou por transformações. Nas sociedades primitivas, a adultez era marcada principalmente por marcos biológicos como a puberdade e a capacidade reprodutiva, que frequentemente acompanhavam rituais de passagem. Com o avanço do século XX e o desenvolvimento da pesquisa sociológica, o conceito evoluiu para englobar, principalmente, a aquisição de papéis e responsabilidades sociais.
Consolidou-se então o modelo dos cinco grandes marcadores tradicionais: terminar os estudos (inicialmente o ensino médio, posteriormente o ensino superior), conseguir um emprego, sair da casa dos pais, casar e ter filhos. Esse modelo previa uma progressão relativamente rápida e sequencial por estes marcos, tanto para homens quanto para mulheres, ainda que com papéis de gênero distintos.
Já as últimas décadas trouxeram mudanças radicais nessa transição. Hoje, é comum morar sozinho antes do casamento - ou nem casar, demorar mais para conseguir estabilidade profissional e, consequentemente, adiar a parentalidade - ou decidir por uma vida sem filhos. É nesse contexto que o estudo Adultopia, realizado pelo Grupo Consumoteca, propõe entender a vida adulta como um "fenômeno da cultura (e não um marco etário)". As definições legais (18 anos) ou médicas (desenvolvimento cerebral completo aos 24) são consideradas insuficientes para capturar a complexidade da experiência contemporânea.
A vida adulta transformou-se em algo multifacetado, fluido e em constante redefinição. Hoje, caracteriza-se menos por marcos externos e mais por estados internos: assumir responsabilidade por si mesmo, tomar decisões independentes e conquistar autonomia financeira e emocional. Não é mais um ponto de chegada, mas um "estado de busca constante", um "processo contínuo de adaptação e reinvenção".
Essa transformação é moldada por três fenômenos contemporâneos: a aceleração do tempo, onde tudo acontece rapidamente e exige adaptação constante; a fragmentação das relações, com o enfraquecimento dos vínculos comunitários; e o descompasso com o mundo, onde os marcos coletivos que sincronizavam nossas vidas perderam força.
O que a gente observa é um fenômeno cultural que o estudo denomina “Forever Adulto”. A grande revelação é que ninguém está fugindo da vida adulta - apenas reinventando o que ela significa em um mundo acelerado, fragmentado e dessincronizado.
Boletos à parte, eu me sinto muito adulta quando tenho que assinar um documento, ir ao médico sozinha, tomar decisões de carreira, ser forte para oferecer um ombro amigo à alguém, mas também continuo me sentindo adulta quando deixo minhas plantinhas morrerem, quando desejo o colinho da minha mãe ou quando tenho vontade de ficar vendo desenhos o dia inteiro e ignorar que existe um mundo acabando lá fora. Tudo isso é ser adulto. Ser adulto é fazer o melhor que pode ser feito nas condições caóticas em que vivemos. E tudo bem ir e voltar. Viver não é sequencial e padronizado - está mais para uma montanha-russa maluca sem rumo definido.